A Postura do Terapeuta AEDP

O triângulo da experiência é um triângulo de conflito expandido que representa, esquematicamente, como a experiência emocional está estruturada. O que o diferencia de outros esquemas representacionais é a inclusão dos afetos patogênicos e dos estados emocionais insuportáveis na sua parte inferior, pois contém a dinâmica básica do modelo funcional interno do indivíduo naquela relação.

A AEDP vai se utilizar disso para a exploração completa, momento-a-momento, da experiência do paciente. Ou seja a exploração e expressão de todos os aspectos dessa seqüência afetiva.

No entanto, em uma experiência com um outro em sintonia afetiva, há a possibilidade de uma nova experiência subjetiva, que pode ser vista no triângulo da resiliência – a experiência com um outro capaz de ter uma ressonância aos afetos do paciente – a experiência do indivíduo pode sofrer uma profunda mudança e a emoção pode ser processada de forma bastante diferente. Com um outro engajado, responsivo, acolhedor e regulador do afeto, o potencial de saúde poderá ser liberado. As forças afetivas transformacionais estarão disponíveis para o paciente.

Ao falar dessas forças transformacionais, Diana Fosha faz um paralelo com a resistência usando o termo em inglês – Transformancy – que traduzimos com o neologismo: Transformância – ou seja, a capacidade, abordada anteriormente, de auto-retificação e auto-cura.

Essas forças são liberadas pelos Afetos Transformacionais. As experiências positivas que ocorrem como conseqüência de se haver dominado uma experiência afetiva até então excluída, dissociada e temida. O que causava sofrimento é agora revivido sem a experiência patogênica de solidão.
Os Afetos considerados como transformacionais são:

– Afetos de Competência – sensação de ser capaz de lidar com suas próprias emoções, de vivenciar uma vulnerabilidade positiva;

– Afetos Curativos – a alegria e o reconhecimento e gratidão pelo outro que o acompanha;

– Lamento pelo self – a auto-compaixão e tristeza pelas oportunidades perdidas pelo uso crônico das defesas;

E, por fim,

A Sensação de verdade interna e autenticidade – a auto-empatia.

Portanto, nesse novo estado afetivo, a fisiologia corporal, o processamento das informações, o afeto, a memória, a cognição e a comunicação, bem como a experiência subjetiva do self são re-organizados, possibilitando, como diz Stern, “o seguir adiante” do processo terapêutico.

Ao concluir, enfatizamos alguns aspectos essenciais da AEDP. Em primeiro lugar

“a experiência visceral dos fenômenos de afeto essencial numa díade emocionalmente engajada é considerada o principal agente de mudança.” (Diana Fosha)

Assim, a postura terapêutica indicada visa fomentar a segurança e a confiança do paciente, através da experiência de um relacionamento empático, com um outro responsivo, engajado, capaz de construir um ambiente onde a experiência do afeto é sensorial e focada-no-corpo. A sintonia é mantida usando-se também os recursos da comunicação não-verbal, de hemisfério direito para hemisfério direito, o que determina uma relação face a face, olho no olho, afeto a afeto.

Portanto, as técnicas deverão focalizar a experiência sensorial somática, visceral e motora, que envolve reviver e imaginar.

“A provisão e o fomento de novas experiências emocionais é ao mesmo tempo o método e o objetivo da AEDP.” (Fosha)

No entanto, momentos de trabalho experiencial devem ser alternados com momentos de reflexão. Não basta que esses processos operem de forma processual e implícita. É necessário o metaprocessamento, pois a reflexão sobre a experiência possibilita que ela seja incorporada na consciência e integrada numa nova narrativa autobiográfica mais coesa e coerente.